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Mais um presente de Shaw para as plateias atuais – O dilema do médico
Não sou crítico, nem tenho a pretensão de sê-lo, escrevo resenhas de espetáculos, nunca críticas. Não escrevo para mim, escrevo para compartilhar com amigos e uns poucos interessados nas minhas impressões sobre um trabalho coletivo ao qual dedico a maior parte da minha vida. Posto isto, quando expresso minha opinião sobre um espetáculo tento fazer com que ela traga em seu bojo alguma reflexão pertinente, não cabe uma simples adjetivação. Um espetáculo teatral não é uma bela e suculenta fruta madura tenra e doce. A maioria de nós tem referência semelhante a respeito de frutas então a mera nomeação de adjetivos comuns diz algo. Não é necessário refletir, os elogios…
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Águas que queimam na encruzilhada
Ontem (dia 04/09) fui pela segunda vez assistir ao espetáculo “Águas que queimam na encruzilhada” do Teatro de Incêndio, direção de Marcelo Marcus Fonseca. Havia assistido a estreia, quis assistir novamente passadas algumas semanas. Resolvi chegar cedo, ao me aproximar do prédio percebi pelo movimento que estava lotado. Tenho costume de observar as diferentes plateias da cidade, fiquei feliz ao ver que em sua maioria era composta por jovens animados, nada pálidos, nada apáticos. Muito bom ver existe um púbico deste tipo para um espetáculo bastante autoral que aparentemente fala sobre as especificidades do bairro do Bixiga, traz interesse. O espetáculo fala sobre a vida de uma população de um…
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O espetáculo “Boris” está pronto
Assistir ao espetáculo “Bóris não está pronto” foi uma experiencia duplamente recompensadora, tanto pelo espetáculo por si, quanto por ver o desenvolvimento do trabalho do Coletivo Dolores Boca Aberta que conheço há muitos anos, mas que eu já há algum tempo não acompanhava (erro meu). Trata-se de um belíssimo espetáculo que discute a masculinidade de forma singular. De partida o trabalho se inicia com um tema musical que para mim é um achado, uma canção que é muito popular entre os adolescentes há mais de 30 anos pelas escolas da periferia paulistana, mas que colocada no contexto que o espetáculo nos propõe, passa a simbolizar o método na formação do…
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Um Jardim para Educar as Bestas
As múltiplas fontes de inspiração e os múltiplos criadores da cena de “Um Jardim para Educar as Bestas” criam algo único. Trata-se de uma criação coletiva dos artistas Eduardo Okamoto, Isa Kopelman, Marcelo Onofri e da produtora criadora Daniele Sampaio estreia nacionalmente na Mit em 04 de junho, na Biblioteca Mário de Andrade. Trata-se de um duo para piano e atuação que reescreve um dos trinta e seis capítulos do livro “Homens Imprudentemente Poéticos”, de Valter Hugo Mãe: “A Lenda do Oleiro Saburo e da Senhora Fuyu”. Originalmente ambientada num Japão antigo, a trama é transposta para o sertão brasileiro, em diálogo com textos de Ariano Suassuna, Guimarães Rosa e…
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O mais do que nessário Papa Highirte
Muitas vezes ao assistir a espetáculos relevantes para o momento digo que é um trabalho necessário. A montagem do Grupo Tapa para “Papa Highirte” de Oduvaldo Vianna Filho vai muito além disto. Devo começar pela importância de se trazer a público uma obra ainda pouco conhecida de um grande autor nacional. Não se trata de qualquer texto, trata-se de uma das melhores obras do dramaturgo. Vianinha é reconhecido como um dos expoentes de uma grande geração. Um autor que só não foi maior porque foi podado duas vezes; primeiro pela ditadura e depois pela doença, que o levou a morte prematura. Só por este mérito esta montagem já mereceria destaque, trazer este…
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Assistir Foxfinder para que não nos cacem
Podemos falar em várias “funções” para a arte, uma das mais relevantes é utilizar a obra artística como instrumento para questionar a realidade objetiva, sendo assim o trabalho nos apresenta subsídios que nos auxiliam a vermos traços específicos de um panorama mais amplo, caso não fossem destacados estes detalhes normalmente passariam desapercebidos, mas quando nos são apresentados sob outra ótica vemos que é algo a ser pensado e se for o caso questionado. A questão seria levar a reflexão, não ao convencimento. É como se pudéssemos sair do contexto social em que vivemos e observá-lo como se fossemos estranhos. A criação de distopias é muito utilizada na literatura e na…
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Revendo a Pane
Nestes tempos estranhos está cada vez mais complexo produzir espetáculos, devem ser resultado de muito planejamento, pode-se demorar anos para se realizar um projeto, é preciso ter muita persistência. No caso do espetáculo “A Pane” eles já haviam passado pelo todo “calvário normal”, mas próximos a estreia tiveram de paralisar tudo e aguardar mais quase dois anos, a boa notícia é que o esforço compensou, tiveram um resultado mais do que acertado. O teatro é uma Arte de Ofício, e apesar de haver inúmeras teses de doutorado sobre a arte de interpretar é em cena, no jogo entre atores de variadas gerações onde verdadeiramente se aprende o ofício. Mesmo não…
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As belas “Mortas” de Oswald na Oswald
Na sexta feira, 13 de maio, assisti a uma bela encenação na Oficina Cultural Oswald de Andrade da “A Morta” de Oswald de Andrade criada pela Cia Aberta de Teatro, com direção geral de Cacá Toledo, com um grande elenco e ficha técnica – todos muito competentes. A encenação percorre as dependências do térreo do centenário edifício da Rua Três Rios apropriando-se muito bem das diferentes características do prédio. Foto de João Maria Silva Jr Enquanto assistia ao espetáculo me ocorreu que as montagens dos textos modernistas deveriam ser recorrentes, penso que seria útil na construção de um olhar diferenciado sobre nossa herança teatral, além de conhecermos melhor detalhes de…