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Assistir Foxfinder para que não nos cacem

 Podemos falar em várias “funções” para a arte, uma das mais
relevantes é utilizar a obra artística como instrumento para questionar a realidade
objetiva, sendo assim o trabalho nos apresenta subsídios que nos auxiliam a vermos
traços específicos de um panorama mais amplo, caso não fossem destacados estes detalhes
normalmente passariam desapercebidos, mas quando nos são apresentados sob outra
ótica vemos que é algo a ser pensado e se for o caso questionado. A questão seria
levar a reflexão, não ao convencimento. É como se pudéssemos sair do contexto social
em que vivemos e observá-lo como se fossemos estranhos. A criação de distopias
é muito utilizada na literatura e na dramaturgia, porque nesta realidade
imaginária o ponto a ser ressaltado pode ser ampliado, sob esta lente de aumento
vemos o absurdo. Esta explicação é para mostrar os grandes méritos da dramaturga
Dawn King em Foxfinder, em 2011 os regimes de extrema direita estavam ensaiando
para voltar, mas a autora percebeu que aconteceria, e criou através de uma fábula
distópica um microcosmos onde pode mostrar suas ideias, são quatro personagens,
o casal Samuel Covey (Ernani Sanchez) e Jude Covey (Carolina Fabri), o inspetor
William Bloor (Eduardo Mossri) e a vizinha Sarah Box (Carol Vidotti), através deles diferentes
pontos de vistas e proposições são colocadas em cena. A encenação (direção de
Wallyson Mota) sempre em um ritmo forte e tão envolvente quanto o texto nos
mostra como o autoritarismo pode ser envolvente e sedutor.

Foto de Halei Rembrandt

Em alguns momentos Foxfinder nos lembra de 1984 (de George Orwell) em outros do
Conto da Aia (The handmaid´s Tale de Margaret Atwood) duas obras literárias que
pela sua força foram transportadas para o cinema ou séries de TV, mas talvez
por se tratar também de distopias, no caso a peça de Dawn King tem alguns
pontos que a tornam mais interessantes para o público contemporâneo ela foi
escrita já para o período atual, um período que está em formação e que deve ser
observado pelo público já para que ainda possa ser moldado. Alguns autores entre
eles  a teórica americana Jodi Dean (Neofeudalismo:
o fim do capitalismo) observa que a dramaturgia atual mostra comunidades autoritárias
e em muitos casos agrarias (Game of Thones, Jogos Vorazes, Vikings etc) porque
a civilização capitalista esta no fim e outra realidade (pior) se apresenta,
uma sociedade semelhante ao feudalismo, a sociedade apresentada em Foxfinder
tem uma logica feudal, os pequenos proprietários de terras passam a ser tratados
como servos pelo governo central, que utiliza instrumentos de dominação
baseados na culpa e na união contra um inimigo comum (construído no imaginário).
Outra grande sacada da montagem é deixar claro que os artistas não são as
Raposas, não vou explicar mais para não tirar nenhuma surpresa do espetáculo,
que deve ser visto.

Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno

FOXFINDER

De 02/05 a 14/06 | Segundas e terças-feiras, às 19h (Gratuito)

 

 

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