• Boaro,  Cia da Memória,  Ruy Cortez,  SESC,  SESC Consolação,  tchekhov,  Teatro

    O Jardim das Cerejeiras: Entre o Cuidado Estético e a Crítica Social

     O Jardim das Cerejeiras: Entre o Cuidado Estético e a Crítica Social  Por Márcio Boaro No espaço onde Antunes Filho nos brindou por décadas com criações memoráveis, o Teatro Anchieta, no SESC Consolação, agora floresce sob as cerejeiras de Tchekhov, conduzidas pela visão sensível de Ruy Cortez e a Cia da Memória. A montagem de O Jardim das Cerejeiras não apenas encanta pela estética, mas provoca reflexões profundas sobre a decadência da aristocracia, o avanço da burguesia e a persistente invisibilidade da classe trabalhadora.  Se há uma palavra que sintetize o espírito dessa montagem, ela é “cuidado”. Cada elemento cênico parece calculado para transportar o espectador a uma imersão sensorial…

  • Teatro

    Resenha: Um Grito Parado no Ar – Teatro do Osso

    Resenha: Um Grito Parado no Ar – Teatro do Osso  Por Márcio Boaro  O Teatro do Osso, sob a direção de Rogério Tarifa, ressignifica a obra clássica Um Grito Parado no Ar, de Gianfrancesco Guarnieri, e transforma o palco em um espaço de reflexão, memória e resistência. Mais do que uma releitura, o espetáculo é um mergulho profundo nas possibilidades do metateatro e na função social do teatro em tempos de crise.  Escrito durante a ditadura militar, o texto de Guarnieri já trazia uma proposta ousada: falar sobre os desafios do fazer teatral em um momento de censura e repressão. Cinquenta e um anos depois, a montagem do Teatro do…

  • Boaro,  Matheus Solano,  O figurante,  Teatro,  Teatro Renaissance

    “O Figurante” – A Poética da Invisibilidade

    Na solidão de um palco nu, Mateus Solano encarna Augusto em seu primeiro monólogo, um figurante apaixonado pelo que faz, mas eternamente à margem, preso a uma existência que não lhe concede o desejo de exercer plenamente o ofício de ator. Entre sonhos e funções que parecem nunca se concretizar, Augusto luta por dignidade em um mundo que o silencia, onde cada tentativa de “ir além” é anulada pela indiferença. Há em sua jornada ecos das peças de Franz Xaver Kroetz, com suas paisagens de cotidiano vazio, que expõem a banalidade como um reflexo profundo da condição humana. Sob a direção sensível de Miguel Thiré, “O Figurante” transforma essa luta…

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    Resenha: A sinfonia narrativa da Companhia do Latão e sua crítica ao patriarcado estrutural

    Resenha: A sinfonia narrativa da Companhia do Latão e sua crítica ao patriarcado estrutural A Companhia do Latão, há quase trinta anos, mantém uma pesquisa consistente e profunda sobre linguagem cênica. O trabalho apresentado ontem no Teatro de Arena, sob a direção de Sérgio de Carvalho, revela tanto a continuidade dessa trajetória quanto um notável desenvolvimento. A dramaturgia, baseada em dois textos de Truman Capote, constrói um diálogo potente e sensível entre as histórias de duas mulheres separadas por contextos sociais e históricos, mas unidas pelas opressões estruturais que enfrentam em uma sociedade patriarcal. (Divulgação) Os dois textos de Capote – um inspirado em Marilyn Monroe antes de assumir sua…

  • Boaro,  Jorge Luis Borges,  Marcello Airoldi,  Samir Yasbek,  SESC,  SESC Pinheiros,  Teatro

    O outro Borges

    Na estreia de ‘O Outro Borges’, minhas expectativas já eram elevadas, considerando o tema, dramaturgo, elenco e direção. Contudo, o espetáculo não apenas as atendeu, mas as superou. Foi uma apresentação poética e bela, marcada pela harmonia excepcional entre direção e elenco. O título da peça brinca com um conceito profundamente presente na obra do escritor argentino Jorge Luis Borges: o duplo. O dramaturgo Samir Yazbek, ao escolher o conto ‘O Aleph’ como base para a peça, demonstrou uma cuidadosa pesquisa, incorporando também elementos da vida real de Borges, incluindo suas relações com a política argentina. Um dos pontos altos da peça é a forma como o realismo fantástico é…

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    Um olhar sobre as Anas, Miquitas, Coras e Outras Mulheres

      Um olhar profundo sobre a vida das mulheres proletárias é a premissa central explorada pelo núcleo Coras, pertencente ao Grupo Dolores Boca Aberta, para criar um espetáculo. Durante o processo de criação, elas se basearam em relatos pessoais, poemas de Cora Coralina, Carolina Maria de jesus, Patrícia Galvão (Pagú) e Ângela Davis, buscando capturar a essência das experiências femininas nesse contexto. No palco são quatro atrizes, acompanhadas por um músico que dá vida à trilha sonora do espetáculo. A duração do espetáculo ultrapassa uma hora, porém, devido aos temas abordados, o tempo parece passar rapidamente, à medida que somos absorvidos pela sucessão de cenas. Uma das características marcantes da…

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    Um presente que veio de Belém: O Solo Marajó

     As dimensões do Brasil foram estabelecidas (próximas das atuais) no Tratado de Madrid de 1750, oficialmente passamos a ter uma extensão continental. Era necessário algo que unisse o território além da força, em 1758 o ensino e o uso do tupi foram abolidos por lei e se instituiu o português como única língua do Brasil. Depois disto vários governos tomaram medidas para que a identidade nacional fosse parida mesmo que fosse a fórceps, isto era necessário para facilitar a administração e consequentemente o lucro. Tudo foi imposto, o que talvez fossem vários países, se manteve unido a força em um só. São questões que não podem ser esquecidas foi caminho…

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    Mais um presente de Shaw para as plateias atuais – O dilema do médico

     Não sou crítico, nem tenho a pretensão de sê-lo, escrevo resenhas de espetáculos, nunca críticas. Não escrevo para mim, escrevo para compartilhar com amigos e uns poucos interessados nas minhas impressões sobre um trabalho coletivo ao qual dedico a maior parte da minha vida. Posto isto, quando expresso minha opinião sobre um espetáculo tento fazer com que ela traga em seu bojo alguma reflexão pertinente, não cabe uma simples adjetivação. Um espetáculo teatral não é uma bela e suculenta fruta madura tenra e doce. A maioria de nós tem referência semelhante a respeito de frutas então a mera nomeação de adjetivos comuns diz algo. Não é necessário refletir, os elogios…

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    Águas que queimam na encruzilhada

     Ontem (dia 04/09) fui pela segunda vez assistir ao espetáculo “Águas que queimam na encruzilhada” do Teatro de Incêndio, direção de Marcelo Marcus Fonseca. Havia assistido a estreia, quis assistir novamente passadas algumas semanas. Resolvi chegar cedo, ao me aproximar do prédio percebi pelo movimento que estava lotado. Tenho costume de observar as diferentes plateias da cidade, fiquei feliz ao ver que em sua maioria era composta por jovens animados, nada pálidos, nada apáticos. Muito bom ver existe um púbico deste tipo para um espetáculo bastante autoral que aparentemente fala sobre as especificidades do bairro do Bixiga, traz interesse.  O espetáculo fala sobre a vida de uma população de um…

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    O espetáculo “Boris” está pronto

     Assistir ao espetáculo “Bóris não está pronto” foi uma experiencia duplamente recompensadora, tanto pelo espetáculo por si, quanto por ver o desenvolvimento do trabalho do Coletivo Dolores Boca Aberta que conheço há muitos anos, mas que eu já há algum tempo não acompanhava (erro meu). Trata-se de um belíssimo espetáculo que discute a masculinidade de forma singular.  De partida o trabalho se inicia com um tema musical que para mim é um achado, uma canção que é muito popular entre os adolescentes há mais de 30 anos pelas escolas da periferia paulistana, mas que colocada no contexto que o espetáculo nos propõe, passa a simbolizar o método na formação do…