
Muito mais que Um segundo…
Paulo Maeda em Um Segundo (ensaio sobre o tempo) propõe vivermos muito mais do que um segundo de nossas vidas. Ele nos convida para viver duas experiências importantes e praticamente perdidas no século XXI: um encontro de verdade e a possibilidade de mergulhar na humanidade do outro. O convite para a peça vem através de pedido sincero para passar duas horas com esse ator na sala de sua casa, fazendo parte de um pequeno grupo formado por seis pessoas conhecidas ou indicadas por conhecidos. O prólogo da peça é feito por mensagens e áudios de WhatsApp que nos preparam para a experiência a ser vivida, nos apresentando os códigos e convenções sociais a serem usados durante a apresentação.

Ao adentrarmos o espaço de sua casa somos convidados a conhecer outras pessoas e a experimentar a vida ali instaurada. Mexemos nos livros, no texto do próprio espetáculo, olhamos para fotos ali dispostas na parede, fazemos um cafuné no gato Moscou e observamos como o espaço foi preparado para nos receber. Logo após nossa chegada, são 120 minutos de vida compartilhada, onde podemos olhar nos olhos de Paulo Maeda, ouvir sua respiração e sentir junto com ele diversas sensações. Entre textos elaborados previamente e textos improvisados no momento, somos conduzidos a mergulhar na humanidade daquele ser humano que se abre e apresenta para nós.
Ali podemos ser atravessados pelo tempo da memória, que vem até nós pelo relato de como foi o dia do ator antes do espetáculo, de como ele passou por um período da sua adolescência, de como foram os processos de outros espetáculos, refletir sobre as escolhas contidas na cápsula do tempo proporcionada por uma fita cassete com a voz do ator em outros tempos, seguir a playlist de um momento específico, ou ouvir outros relatos sobre o inexorável tempo. Maeda transforma as duas horas de espetáculo num intenso calendário cósmico aos moldes de Carl Sagan. Uma fatia de tempo e de vida, onde podemos viver: do big bang até o presente. A vivência é realizada na velocidade da luz, mas na calma da interpretação de um ótimo ator que como Shiva dança o ontem, o hoje e o amanhã.
Maeda tem o controle do gesto das palavras, fazendo com que até os improvisos pareçam ensaiados e que estejam imbricados de forma sine qua non as partes com o texto estruturado. A partitura corporal, muito bem elaborada, volta de tempos em tempos, mas, sendo aquilo que faz parte e tem sentido no andar do instante, nos cativa e encanta sempre como novidade.
A iluminação do espetáculo fica por conta do uso inteligente e consciente de recursos caseiros: vela, luzes de natal, abajures, plafons, projetores de gobo para uso doméstico e fitas LED. Recursos simples e cotidianos, usados com criatividade.
Como disse antes, nesta experiência vivemos muito mais do que um segundo. Durante o tempo que passamos na sala da casa de Maeda, somos puxados pela gravidade de um buraco de minhoca temporal. Afetamos nossa massa com poesia, simplicidade e vida distendida. Naquela sala nos é oferecida a possibilidade quântica de retornar no tempo: olhar em retrospecto, viver o presente e avançar para o futuro, tudo isso, somente manipulando os átomos da poesia do encontro e do humano que está ali na nossa frente.

FICHA TÉCNICA
Concepção e performance: Paulo Maeda
Criação de luz e operação de gato, luz e som: Gui Pereira
SERVIÇO
Duração: pode chegar a 120 minutos (permita-se viver um tempo…)
Ingressos: pague quanto puder ou quanto quiser
Como participar? Você precisa ser convidado por alguém que acabou de passar pela experiência… (Mas Paulo Maeda também está fazendo uma listinha de espera… quem quiser participar basta entrar em contato: 11 986713073).

